
Séculos de conhecimento foram perdidos, conforme a tecnologia reduziu a necessidade do controle passivo da temperatura na arquitetura atual, o ar condicionado passou a ser uma solução quase padronizada para os edifícios cada vez mais quentes, que além de contribuir com o aumento da pegada de carbono global, também bombeia ar quente para o ambiente externo, contribuindo para o efeito “ilha de calor”.
Várias soluções encontradas na arquitetura secular, como no Oriente médio, na Índia e no Mediterrâneo, através de séculos de sabedoria, podem ser um caminho para arrefecer os nossos edifícios e construções modernas.
Nas regiões mais áridas da Índia os havelis (tradicional casa de cidade ou mansão), utilizam o espaço e os materiais de forma extremamente inteligente para controlar a temperatura. Nos pátios abertos durante os dias quentes o ar se aquece e sobe, criando um vácuo que retira o ar quente do edifício, proporcionando um efeito de corrente de ar refrescante. Ao anoitecer ocorre o contrário, o ar frio penetra nestes pátios e nos ambientes ao redor, expulsando o ar quente pelas janelas abertas. O uso de vegetação e fontes cria um efeito evaporativo aumentando o resfriamento.
No Mediterrâneo os edifícios mais antigos apresentam frequentemente materiais que favorecem ao arrefecimento passivo como o arenito e o mármore. Paredes grossas de pedra ou tijolos de barro de elevada “massa térmica” (capacidade do material de armazenar o calor), absorvem o calor do ar circulante. Paredes brancas são utilizadas para refletir radiação solar, como por exemplo as paredes caiadas de uma vila em uma ilha grega.

A arquitetura do Oriente Médio, ao longo de milénios desenvolveu o uso de estruturas projetadas para resfriar os espaços escaldantes e secos da região. Windcatchers (torres de vento) e mashrabiyas (varandas fechadas com treliças de madeira), são encontradas com frequência, utilizam o fluxo de ar para resfriar os espaços, substituindo o ar quente dos ambientes por ar mais frio do exterior. Nos mashrabiyas potes ou pequenas piscinas de água são utilizadas para promover o efeito através do resfriamento evaporativo.
Os Windcatchers (ou malqaf) funcionam de duas maneiras, nas regiões com mais ventos os antigos arquitetos criaram um sistema de resfriamento ativo, com aberturas direcionadas para o vento predominante, aspirando o ar que flui pelo edifício através de uma abertura do outro lado, criando uma brisa refrescante.
Nas regiões com pouco vento, o malqaf funciona como uma chaminé solar, retirando o ar quente dos ambientes internos através de aberturas no topo da estrutura, criando fluxo de ar e removendo o ar quente.
Designers, arquitetos e especialistas já vem para o passado em busca de intervenções de baixa tecnologia e baixo carbono, para combater a crescente ameaça do calor extremo. Charles Édouard Jeanneret (também conhecido como Le Corbusier), inspirou-se nas treliças do mashrabiyas para desenhar o primeiro brise-soleil moderno para o edifício do Ministério da Educação e Saúde pública do Rio de Janeiro em 1937, a Courtyard House, projetada por Fraher & Findlay apresentada na exposição Don’t Move em 2020, apresenta um pátio na parte de trás da propriedade, com a intenção expressa de aumentar a ventilação.